Harnessing the healing power of Batata: How journaling non-sense stuff can boost your serotonin levels and improve your well-being.

Olá Horta,

Uma Horta seca, cheia de ervas daninhas e descabelada, com buracos de toupeiras, mas ainda assim uma bela horta que sobreviveu a grandes secas (de piadas e de textos) e pragas bíblicas.

Serve o presente post para regressar a um lugar onde sempre fui feliz e recebi e (quero acreditar que também dei) bastante colo.

No entanto, contrariamente ao primeiro post deste lugar idílico, já não sou uma adolescente de 16 anos que debitava verborreia como uma criança de pré-escolar tira e come macacos do nariz. Não, daqui fala-vos uma Batata madura, de 28 anos (nem quero acreditar que estou a escrever isto) que se arrepia nos lugares mais estranhos quando vai precisamente ler o primeiro post deste blog.

Eu vou ser sincera, correndo o risco de cometer um imperdoável sacrilégio: comecei outro blog. Sim, este agora na condição de mulher madura (lel) que iria escrever coisas que importam e ter uma voz activa de papagaio louro pseudo-moralista e auto-flagelador. No entanto, não conseguindo fugir da condição de Batata, obviamente, ao fim de dois posts esqueci-me das credenciais de entrada. Pelo que... aqui estamos novamente. 

Na verdade não se perdeu assim muito. Não que seja uma grande novidade, mas ainda assim é de ressalvar que troquei este grande e genuíno lugar por um mais medíocre apenas porque prometia outro nível de sofisticação. Acho que já todos conhecemos histórias assim, não é? 

Regressando aqui tudo parece fluido (não admira, porque na verdade não pode ser pior que os textos de Miss Teen Batata) e escrevo com o prazer de quem já não o fazia há muito.

A Miss Teen Batata era um ser afortunadíssimo que vivia numa era sem redes sociais, em que as pessoas tinham blogs e havia toda uma comunidade de blogosfera que se apoiava mutuamente. E eram tempos mesmo bonitos de camaradagem e aplausos de teclado. O tempo da Internet fofa, digamos.

Mas agora?

Agora enfrentamos o segundo ano de uma pandemia que nos enriquece diariamente com conteúdo de elevadíssima qualidade. Não me interpretem mal! Eu escrevia sobre cocó. Mas ainda assim considero levemente superior a vídeos de pessoas a dançar coreografias sem nexo ao som de músicas verdadeiramente irritantes carregadas de autotune. E todas querem ser iguais.

Ainda bem que Viriato veio para estas bandas e andou a cortar cabeças a essa malta toda do resto da Europa para que chegássemos a 2021 a saber ocupar o tempo a coçar a barriga suja de migalhas de batatas fritas enquanto empunhamos um comando e matamos os neurónios com Netflix e vídeos de gatinhos a fazerem coisas tolas.

Por vezes pergunto-me se esta pandemia tivesse acontecido há 20 anos, se ainda estaríamos neste rengue rengue de avanços e recuos e teletrabalhos sem fim. Convenhamos que tudo é muito mais suportável porque a generalidade de nós está com o traseiro assente no conforto do sofá a encomendar uber eats, a vestir o corpo com a Zara online, a equipar a casa com o último grito dos aparelhos de fitness vindos da Amazon, para podermos fazer os vídeos da Pamela Reif em condições.  Os outros tantos são os proprietários de restaurantes, hóteis, ginásios e pequenas lojas, bem como artistas que viram o seu meio de subsistência arrancado sem dó nem piedade.

E é aí que me pergunto: se esta pandemia tivesse acontecido há 20 anos em que efectivamente os seus verdadeiros efeitos chegariam a todos nós, e não apenas a alguns, se estaríamos como estamos hoje - só mais gordos, enfadados e solitários. Quase de certeza que os números de mortos causados por esta pandemia seriam mais elevados, mas também os seus sobreviventes seriam mais.

No fim de tudo isto, o balanço será sempre terrível, entre doenças oncológicas não diagnosticadas, miséria, pobreza, depressões e decrépita saúde mental. Não há confinamentos que salvem quem mais sofre por causa deles.

O pior de tudo é, para mim, não ver o fim. Não acredito que a vacina seja a toda poderosa que nos irá salvar a todos no próximo Inverno. Decerto irá melhorar, e acredito na Ciência e no que ela é capaz de atingir, ou não fosse eu própria uma mulher de ciência. Mas não é o Santo Graal que tudo cura. Mais importante que tratar este sintoma, é importante encontrar a origem do problema, ir de encontro ao que causou a ferida, e ver esta situação como um todo.

Mais do que confinar, é importante educar as pessoas sobre Ciência, sobre vírus e vacinas. Chegar à população leiga que não percebe em que consiste um PCR, em que consiste um Rt, como se verificam a presença/ausência de anticorpos e o que o resultado desses testes significa para a liberdade individual e colectiva. Educar as pessoas sobre respeito pelo próximo e sobre cumprir regras que beneficiam a todos - sobre saber dosear o distanciamento social e aprender a evitar lugares aglomerados.

Vi tanta coisa nesta pandemia, e não vi nenhuma aula em canal aberto dirigida à população geral que ensinasse, de facto, o que estamos a enfrentar. Apenas vi vídeos de dirigentes e ministros também eles aos papéis sobre o que significam todas estas coisas; apenas vi vídeos de médicos que espalham o terror com audios e vídeos sensacionalistas que de pedagógicos pouco têm.

Mas como chegar à população? Como tirar as pessoas do sofá e do TikTok e cativá-las a quererem aprender e perceber do que se trata tudo isto? Como devolver a esperança às pessoas cada vez mais frustradas e desanimadas?

O problema é real, a embrulhada mais ainda, e a falta de fé em quem nos governa faz-me ter a certeza de que nunca seremos ouvidos. Nunca os nossos interesses serão postos na mesa como prioridade, e seremos sempre peões sacrificiais de um xadrez maquiavélico. As incoerências do que podemos ou não fazer hoje, e muitas vezes com a pandemia como pretexto, fazem-nos ver que as abébias são dadas a quem pode pagar o seu preço com os maiores juros. 

Recentemente, casos como o de José Socrates e do SEF vêm aumentar ainda mais este fosso que separa o comum dos mortais daqueles que são capazes de sair impunes das maiores atrocidades. E o português dos brandos costumes faz uns buzinões na Avenida da Liberdade, escreve uns textos parolos num blogue ainda mais parolo, e depois da missão patriótica cumprida vai para o postigo comentar, sem distância social, o porquê de o Cristiano ter atirado a sua camisola ao chão no final da partida. Epá, e ainda bem que já se pode ir beber uma para as esplanadas. Está feliz, o petiz.

No final do ano passado pensámos que o pior já tinha passado. Enganados, claro está, comemos passas e esperámos um 2021 milagroso que tudo salvaria. Eu cá acho que temos pela frente tempos extremamente desafiantes, em que, ou a Humanidade dá o grito do Ipiranga ou é esmagada pelas injustiças. Qualquer uma das opções vai ser terrível. 

E nisto, só tenho vontade de cavar o meu buraquinho de Batata e esconder-me lá à espera que tudo passe. E nisto os meus últimos anos dourados antes de chegar aos grande 30 foram-me ceifados, ainda que dentro do meu privilégio. 

Mas a bem dizer, sinto-me esgotada. Sinto que espremo o meu cérebro de Batata com muita força e que pouco ou nenhum sumo sai. Sou uma pessoa optimista e paciente (sei que depois deste texto parece exactamente o oposto), e quero acreditar que depois desta grande e feia nuvem, virão uns bons anos de sol. Mas não sei se a Humanidade tem feito muito por merecer essa benesse. O tempo o dirá.

Entretanto este artigo científico que vos escrevo defrauda um pouco o seu título, mas decerto que escrever algumas frustrações e o que me vai na alma há-de contribuir para melhorar o meu bem-estar de certa forma.

Despeço-me como não poderia deixar de ser com:

Batatinhas



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Bernoulli

O Eça de Queirós era um tipo engraçado#1 "O desabafo da Batata - Batata governa o Mundo"