Words don’t come easily
Querida Horta,
A Batata tem 25 anos. (um momento de silêncio
para nos recompormos desta informação. GIFs psicadélicos a serem inseridos)
Ora, vamos lembrar-nos que este blog começou
precisamente no auge da minha adolescência, aí pelos meus 16 anos... o que quer
dizer que já lá vão quase dez anos e que cresci muito pouco nos entretantos
(ainda tenho um blog, tsipo). Mas incrível
mesmo é olhar para trás para aquela criaturinha que só dizia disparates e ter
de lhe colocar a mão no ombro e dizer com um ar muito sério “miga, querida,
lamento, mas quando tiveres 25 anos vais estar mais perdida e com menos
certezas da vida do que agora. Mas, ó, não te preocupes, diz-se por aí que os
40 são os novos 20! Convence só os teus ovários e aparelho reprodutor disso, e
tudo fica espectacular, ok?” *inserir sorriso amarelo*
Anyway, fora a falta de estabilidade financeira
que faz da minha conta bancária uma montanha russa que só desce (mas essa é
sempre a parte engraçada em que a força g
nos dá o friozinho na barriga, right?), acho que até somos uma geração
afortunada. De certa forma, temos mais oportunidades de explorar o que realmente
gostamos de fazer, e no meu caso, a minha falta de estabilidade deve-se a isso
mesmo – a querer fazer algo por que me apaixone todos os dias, mesmo naqueles
dias em que o trabalho tem mau hálito matinal, mas a gente ama na mesma. E eu até gosto de não saber o dia de amanhã, dá-me uma maior sensação de liberdade, de certa forma.
Na verdade, na verdade, o que incomoda este ser
sagitariano tubercular é ser um eterno insatisfeito (mas da pior espécie, não
há pachorra). Existem demasiados Eu’s por aqui a borbulhar e, aos vinte e
cinco, parece que tenho de escolher um só. No fundo, sou uma espécie de Marco
Paulo da vida, que tem dois amores, mas que de facto tem apenas muitos bichos
carpinteiros. Isto de querer estar sempre a correr e fazer coisas diferentes é
o que me move e ultimamente estou a tentar demasiado a ser uma pessoa focada, o
que me deixa levemente ansiosa.
Mas agora, deixemo-nos de queixumes existenciais, e vamos
ao busílis da questão – ao que realmente me preocupa e que quero mesmo, mesmo partilhar.
Horta,
Sinto que estou a perder capacidades
comunicativas/cognitivas/léxicas.
Já não bastava estar uma papinha de bebé no que
toca a querer sair de casa depois de uma certa hora (eu quero é sopas e
descanso, que é como quem diz sofazinho e netflix), sinto que estou cada vez
mais com um discurso Neandertal.
Ora vejamos o que me aconteceu no outro dia:
Estava eu na demanda de acordar os neurónios com
um cafezito, quando me dirijo ao balcão, e digo ao bartender (eu sou chique):
- Bom dia (eu sou assim simpática, digo bom dia), queria um café (sim, ainda
quero)... – e foi aqui que fiquei em loading
infinito.
Ora, eu sou uma pessoa que quando vai ao café
gosta realmente de beber qualquer coisa que se veja. Ali umas gotinhas no fundo
da chávena não é comigo, pelo que peço sempre para encherem. Não é preciso
grandes banheiras porque não tenciono andar com barbatanas atrás de cada vez
que entro no café, mas algo que me faça valer os 0,50€. Então, o que devia ter
pedido ao senhor era “um café cheio”. Vejamos o que na realidade sucedeu:
- Queria um café... *lembra-te da palavra* - o
senhor olhava para mim inquiridor, e eu olhava de volta com ar de parva, sem
conseguir soltar a língua. Por fim sai um: - c...c...c...c...c...curto. (sim,
escrevi bem. Curto. Com direito a
gaguez e tudo.)
Ele olha para mim com um ar estranho e pergunta: “Curto?”
Confesso que fiquei aliviada por ele ter
perguntado de volta porque caso contrário não me iria desdizer, e levava com o
café de conta-gotas. Mas o que é que eu respondi?
- Não! – no entanto, continuava sem me lembrar da
palavra. Então, fiz o inevitável. Separei o indicador do polegar, como se
estivesse a agarrar num Danoninho e
disse: - C...comprido.
- Comprido. Certo. Ora, então sai um café
comprido!
Devo ter suspirado de alívio. Se calhar, isto não
tinha sido assim tão estranho. E se calhar há mais pessoas que chamam café
comprido ao café cheio.
É então que chega o meu café.
O senhor do balcão, muito espirituoso por sinal,
empilhou duas chávenas de café e disse:
- Ora aqui tem o seu café comprido.
Obrigada, amigo. Obrigada por me relembrar do meu
momento senil. Obrigada por ter sublinhado a minha falta de destreza mental.
Isto de se ter 25 anos está a dar cabo de mim. Numa outra ocasião falo-vos das
minhas dores das articulações dos pés. Pode ser que, até lá, tenha ido comprar
umas palmilhas ortopédicas e que tenha pedido ao senhor da parafarmácia que na
verdade queria mesmo era umas palmilhas higiénicas, ou umas panelas ortopédicas.
Quem sabe? Sinto que cada dia me torno mais loucamente
imprevisível. Ainda no outro dia, a minha mãe foi dar com roupa interior minha dentro do caixote do lixo, e com lixo no cesto da roupa suja. Sinto-me a caminhar a passos largos para a senilidade, e que não há volta a dar. Memofante desta vida, ajuda-me a ser normal...mente sã, que ser normal, normal é muito chato e não dá para mim. (Quem é que quer ser perpendicular? - piadinha do nerd)
Batatinhas!
Cara batata,
ResponderEliminarPassei aqui pela horta após uns bons anos de ausência. Parece mentira que quase dez anos tenham passado desde a primeira (e figurada) sacholada na terra! Sempre tive gosto em ler as crónicas de um tubérculo com que tive oportunidade de simpatizar em solos não tão férteis ou importantes (secundários mesmo, no final de contas).
Nesta década de visitas esporádicas nunca disse nada porque entre batatas e alfafas não há muito em comum, mas ao fim deste tempo e de ver tantos posts sem comentários pensei "Bem, que mal haverá em dizer a uma batata que está a ser seguida sem saber? Ainda para mais de madrugada. Seguramente nada de creepy.".
Portanto aqui tens, batata - há neste mundo quem aprecie o que escreves e que torça por ti - mais gente do que imaginas! Portanto força, ânimo, e viva a batata e a sua lógica!
Alfafa