Você está zumbando de mim?

Horta,

Fazendo uma pausa no meu challenge de 30 textos, venho aqui falar-te de uma experiência social que efectivei hoje.

As batatas, por questões morfológicas gerais, são seres cuja forma física rasa o redondo. Vá, estou a eufemizar - as batatas são redondas, ponto final. O parágrafo depois deste ponto, chega-vos quando falo de mim.

Longe de fazer jus à minha condição do santo graal dos tubérculos, a batata, a minha ausência de redondice na zona traseira faz com que sinta que devia usar push-up a toda a hora. Principalmente quando progenitoras variadas referem que se eu engordar, "pareço mais mulher". Pois sim, not gonna happen.

Para além disto, sou uma Batata muito activa, com bichos carpinteiros. E adoro correr. Mesmo. Mesmo, mesmo. Meeeeesmo. Mas não posso (toda uma história em que eu achei que conseguia voar, só que não. E caí. Joelho gigante vermelho, roxo, verde, amarelo, com pus, sem pus. Estragado for life.). Então, inscrevi-me no ginásio para fazer umas aulinhas em que ando aos pinotes, mas não tenho aquele movimento cadenciado e rítmico que me faz ter vontade de sacar da perna e andar com ela ao ombro.

Para além disso, ando a fazer localizada para a zona bundal, a ver se isto fica alguma coisa apreciável, ou pelo menos razoável. Sim, tudo isto para dizer que ando no ginásio. (Uuh, olhem pra mim. Tão fit que sou.)

Ora, hoje, depois de uma semana a ir todos os dias (eu linda, "No pain, no gain.", "You can do it." e mais cenas que se podem acrescentar.), decidi que, em vez de uma aula de Body Step mais uma aula de Body Pump, iria fazer uma só aula maior de Zumba. Só para ver se percebia o hype todo à volta desta modalidade. Já tinha experimentado e não tinha gostado mesmo nada, mas disseram-me que aquele monitor fazia a coisa fixe, e resolvi dar uma oportunidade.

Horta, e digo mais, querida Horta,

Há todo um culto underground à volta da Zumba de que nunca me tinha apercebido. É preciso entrar, para sentir aquela atmosfera de estrogénio de meia idade aliado a bimbalhice muito snob. Eu nem tenho palavras para descrever a quantidade de vergonha alheia que senti.

Tudo começa quando se entra no balneário das senhoras, e já lá estão as super fãs zumbásticas de meia idade, de top, deixando o umbigo à mostra, e de calças marca Zumba (existe a marca Zumba!!!), cheias de penduricalhos do Senhor do Bonfim da Bahia, a dar à anca, enquanto falam muito alto para todos olharmos para elas.

Chegamos ao pé da sala, e o professor começa a fazer a chamada. É quando as mega fãs saem lá do fundo, "com licença, com licença", acotovelando quem se põe à frente, não fosse dar-se o caso de o professor chamar o nome delas e não ouvirem à primeira. Já imaginaram? O drama e o horror!

Lá nos dispomos na sala, e uma das mega-fãs, vai toda dengosa falar com o professor para colocar o telemóvel ao pé das coisas dele. Isto porque colocar no chão, ao lado da parede, como o comum dos mortais faz,  não é suficiente para as mega-fãs que precisam de um lugar especial. A aula está mesmo a começar, e o dito telefone começa a tocar fazendo uma interferência enorme, uma vez que estava pousado nas colunas. Lá vai mega fã que... atende, dizendo à pessoa do outro lado: "estou na minha aula de Zumba.", não fosse dar-se o caso de a pessoa nunca chegar a saber que a mega-fã estava na Zumba.

Nisto, o professor desliga a música para poder falar connosco antes de começar. E no momento em que a música silencia... parecia que estava dentro de um aviário, dada a quantidade de cacarejos a ultrapassar o limite socialmente aceitável de decibéis por metro quadrado. Impressionante.

Como já referi, eu faço aulas de grupo. E a maioria contém mulheres, muitas vezes na íntegra. Mas nunca tinha visto uma coisa assim. É como se tivessem aglomerado anos de liberdade de expressão reprimida numa só sala, numa só aula.

A aula lá começa. Estava a ser engraçada, muito shimmy shimmy para o meu gosto, que me fez um bocadinho desconfortável, mas fora isso, nada contra. Foi só deixar o preconceito de lado, e fazer de tudo para transpirar o máximo possível.

Enquanto andava para ali de um lado para o outro a abanicar-me, observava as meninas da fila da frente que tudo faziam para ter a aprovação do professor. E eu que sempre adorei lambe-botas, nunca pensei que as fosse encontrar no ginásio. E é por isto que o karma não quer nada comigo, porque em vez de concentrar-me nos movimentos sensuales e latinos, estava toda julgadora a olhar para as duas mega fãs principais. Enquanto isso, pensava na senhora que estava à minha frente, que tinha imenso jeito e que se notava que gostava mesmo daquilo, mas não era bimbalhota como as outras.

Isto até a música parar. Vem um intervalinho, e lá vai ela falar com o professor. "Ah sou do clube de Cascais. As músicas aqui são taaão diferentes." *bater pestanas, mexer o cabelo* PUM! Insta-favorita do professor. A partir desse momento, foi vê-la a desabrochar, fazendo cada movimento com uma sensualidade exacerbada, e muito mais interactiva na aula. E foi aí que perdi um pouco da esperança na Humanidade. E ele descia do palco e ía dançar para ao pé dela, e ela ria, e mexia no cabelo. Oh mai-go-de. Mas será possível fazer a aula e deixarmo-nos de libertação estranha de hormonas?

Pareço uma hater, eu sei. Mas só vendo aquilo para compreender as figuras que uma pessoa é capaz de fazer para ter... aceitação(?) No final, acabei por achar piada à aula. Não é o meu tipo de coisa, sou muito mais "macha" no ginásio (sim, e vou com t-shirts daquelas da publicidade largalhonas e da corrida de São Silvestre.), mas transpirei muito e até me diverti. Principalmente quando o meu cérebro pára e a descoordenação toma conta de mim, ou quando o professor fazia alguma parvoíce.

Foi uma aula nice para uma sexta-feira. Não sofri e diverti-me. Só tirava o azeite. Epá, sim. Isso era completamente dispensável.

Bom fim-de-semana! :) E batatinhas*



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