Eram 00:15 e o meu forno eléctrico começou a trabalhar sozinho.

Eram 00:15 e o meu forno eléctrico começou a trabalhar sozinho.

Achei que era um bom título para este post, em grande parte porque, bom, se adequa imenso ao que aconteceu. Pasmem-se, mas eram 00:15 quando o meu escovar cadenciado e teimoso dos dentes foi interrompido por um "venham cá!". E, sim, obviamente que fui de escova de dentes na boca até à cozinha para presenciar o fenómeno sobrenatural do electrodoméstico com vontade própria. Apenas correu mal quando tentei acrescentar algo produtivo à situação, tarefa dificílima quando tens a boca com pasta de dentes e tudo o que sai são grunhidos de cro magnon neandertal. Ri-me debilmente, com o Colgate espumoso a fazer sobressair toda a sua beleza e esplendor, e deixei o forno eléctrico e as suas manias, interrompidas por um desligar da tomada.

Pode parecer estranho, mas os electrodomésticos cá de casa datam, muitos deles, de 1990. São, portanto, dois anos mais velhos do que eu e alguns já estão a pifar. Ora, isto deixa-me a pensar na minha própria existência. Eu não sei se já pesquisaram, mas não há muito aí pelas internetes acerca da esperança média de vida de uma batata comum (sendo que todos sabemos que de comum, este tubérculo pouco tem. Tadita, eu.). Estarei eu própria a pifar? Será tudo isto uma metáfora da vida, transformada em forno eléctrico e nas suas resistências (sim, foi por aí que tudo começou, nas resistências) a dar-me o aviso final?

Ou será antes um wake up call, em que o forno eléctrico me diz: "Anda daí, Batata! Baixa essas resistências e liga-te sozinha? Revolta-te!".

Eu não sei. Mas se algum dia vos cheirar a bolo de canela quente, fui eu que decidi seguir este último conselho do forno (apesar de muitas vezes ter, ele próprio, assado batatas).

A vida é curta, Horta. A vida, as resistências e, ao que parece, até as revoltas mais loucas podem ser terminadas com um desligar da tomada. (wow, deep man.)

Entretanto, enquanto não me decido em relação ao que fazer com os acontecimentos do forno, partilho convosco algo igualmente eléctrico.

Esta semana contactei com pequeninos da pré-primária, da turma dos 3 anos. Ora, eu sabichona pergunto: Então, meninos, sabem dizer-me o que é a Electricidade?

Ao que um menino me responde: Sim, são umas bolinhas!

Eu, pensando que estava ali uma tentativa tontita de responder algo, não digo que está errado. Sorrio e aceno, e pergunto: São umas bolinhas? E que mais?

A professora interrompe-me, e pergunta aos seus meninos, de 3 (três, three, trois): E como se chamam essas bolinhas?

E eles respondem: São o protão e o electrão que chocam e produzem electricidade.

E neste momento eu soube o que era ser um protão e um electrão: completamente chocada. Quando meninos de três anos sabem pronunciar protão e electrão, toda a minha vida se torna numa mentira e indago acerca do meu futuro.

Parecendo que não, isto volta tudo ao forno eléctrico. Ainda não sei bem de que forma, mas dormiremos todos a pensar nisto e, juntos, reflectiremos acerca do sentido da vida e de como se manifesta em protões, electrões e em fornos eléctricos que se ligam sozinhos.

Batatinhas!

P.S: E esta semana também tive um mocito de 13 anos a dizer-me: Senhora, você é mesmo muito bonita.  Se depois não fosse presa e arruinasse a minha vida e a dele, Casava-me. (

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